Venho aqui e vou embora, trazida por uma inspiração soluçada. Leio, trabalho, dirijo, converso e pronto: apareço, escrevo umas linhas. Apareça também, sempre, quando em vez, assim como eu. E seja bem-vindo.

terça-feira, setembro 29, 2009

Vídeos e Músicas achadas

Hoje vou deixá-los com um achado de mais um dia fuçando o Muziic. Essa moça é Essie Jain, gravada pela Ba Da Bin Studios, a mesma gravadora do Beirut. Não há exatamente um mérito nisso, é só que foi assim que a encontrei. A potência vocal da moça é interessante e o timbre tranquiliza qualquer um. É bonito e gostoso de ouvir.






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sábado, setembro 26, 2009

O místico no ponto de ônibus

Havia um homem sentado no muro. O escuro caíra há um quase nada e o arredor do Benfica ia empapado de gentes. A chusma que sempre se forma às seis da tarde, progresso do burburinho que começava às cinco e agora já é latente desde as quatro, estava presente, sacudindo-se em busca de um transporte, pescoços de girafa alongado a mais não poder sobre as cabeças uns dos outros, enxergando parangabas, mucuripes e Joões Pessoas. Cinco da tarde, nesses tempos de buracos tapados com poeira e carros enormes lotados de uma só pessoa, já é hora maldita de raiva e impaciência. De ônibus e motoristas tão dormentes que, por isto mesmo, renegam a impaciência dos passageiros: mudam a rota, passam direto. Na aglutinança de suor, exaustão e olhos no relógio, o homem simplesmente estava sentado no muro.


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quinta-feira, setembro 24, 2009

Esmurre a Abril, os buracos, os ônibus e o Recife

A Editora Abril vai lançar um curso de jornalismo. O anuncio diz "você possui um curso superior completo em qualquer área e quer ser jornalista? Inscreva-se já!" ou qualquer coisa do tipo, mostrando que é preciso fazer um curso superior para ser alguém, mas não para jornalista. Eu quero esmurrar alguém.


Passo de ônibus agora à noite e uma dúzia de pessoas assistem na parada a alguma coisa. Caço, procuro a direção dos olhos e percebo que o foco é em mim, quer dizer, em nós, quer dizer, assistiam à performance dos veículos que insistiam brava e habilidosamente em desviar das crateras abertas na estrada. Literalmente assistiam, como a um filme, uma novela. A maioria deles sequer esperava um ônibus. E eu continuo querendo esmurrar alguém...

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quarta-feira, setembro 23, 2009

O labirinto ambulante no labirinto do tempo

“São quatro ripas do esqueleto. Mais uma na parte de cima pro toldo e duas embaixo pra cama de gato que segura a mesa: outras duas ripas mais grossas juntas com prego. Só no final vêm as sacolas da mercadoria e as bonecas pra servir de mostruário. As tiras de pano seguro calafeta a armação. Hoje usam ferro. Uns cilindros pretos, finos, que se encaixa feito canudo, mas naquela época... Era luxo o ferro. Parecia que demorava a montagem, mas não era. E se era, acabava não sendo: a gente acostuma”.


O Camelô não aprendeu a montar barraca com ninguém. Deve ter visto o pai ou a mãe, ou os dois, amarrando as linhas de madeira, e aprendeu. Disso não há nenhuma memória afetiva: montar barracas não fica, não marca, não é nada de mais. No fim das contas, diz-se que vida foi quem ensinou – quem mesmo, assim como se fosse gente. Foi ela quem ensinou: a montar, amarrar, fazer cama de gato, dobrar roupa, ensacar, vestir boneca, vender, desarmar e correr. Tudo o mais rápido quanto fosse necessário.



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quarta-feira, setembro 16, 2009

Sobre o pensamento e o gravador

Já disse e pensei isso muitas vezes: queria demais poder escrever ao falar. Entende? Ir pensando e o pensamento sair escrito, sabe? E a voz do pensamento sair traduzida em texto, assim direto, por que tem coisas que penso e falo com essa voz do pensamento que saem tão bem ditas e tão logo - puft! - se apagam.


Talvez por isso eu às vezes pareça falar sozinha. Eu queria gravar tudo, eu já pense nisso, mas não é possível. Primeiro por que a voz do pensamento falada não é a mesma e depois, ainda que fosse, nesse mundo em que a gente vive é proibido falar sozinho. Já perceberam isso? É proibido.

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segunda-feira, setembro 07, 2009

Rente ao Chão ou A Rua do Por Debaixo dos Panos


São dez horas de uma manhã qualquer. A claridade cega os transeuntes, fazendo-os milhares de toupeiras a se esbarrar na correria trivial da José de Alencar. Homens e mulheres ceguetas recorrem ao Beco em busca de óculos escuros a 10 reais. Apesar do sol, uma rua da grande tenda é escura ainda. Ainda e sempre.


Nela, o chão em falso, de cimento batido, não é mais que um pretume disputado por restos. São eles que dizem onde estou, isso é lei em todo o Beco: em quaisquer ruas, o lixo conversa comigo e me diz dos vendedores e transeuntes, dos produtos vendidos e consumidos, de modo que, se me deitasse rende ao chão, saberia exatamente onde estou.


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O Beco em Dias de Sábado

Manhã


Sábado: o pior e o melhor dia para estar no Beco da Poeira. Pior para os clientes, melhor para os comerciantes. Apesar do calor, da sede e do completo desconforto, milhares de trabalhadores elegem a manhã de sábado para ir às compras, promovendo-se de vendedores a consumidores, ao menos uma vez por semana.


Hoje, o Beco está especialmente cheio: é véspera de Dia dos Pais. As modinhas femininas, campeãs de vendas, dão lugar a calçados, cintos, bonés e blusas de time. A mãe de família leva os filhos e a irmã, juntos escolhem lembranças para os pais e maridos. Os irmãos maiores repuxam bermudas, cuecas, calções de banho, sapatos e a camisa da mãe: não necessariamente nesta mesma ordem. O filho pequeno sacode-se impaciente nos braços da mulher, quer participar da brincadeira.


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sexta-feira, setembro 04, 2009

Sobre Twitter, Blog e tudo ao mesmo tempo

Trago oito blogs abertos nas abas do Mozilla. Num deles escuto Joe Cocker cantando A Little Help From My Friends. Pretendo passear por pelo menos uns 15 blogs esta noite. Noutra aba, a contradição perpétua: acesso o twitter para fazer minha conta: a internet é mesmo o lar da contradição relevada, é uma terra sem lei e trincheiras por que não há guerra, e também não há paz, há falta de princípios, de motivos para luta ou trégua. Só mantemos um hábito enquanto um melhor não aparece. Um mais novo. Os blogs foram mantidos até o surgimento do twitter, pela lógica. Mas na internet não há lógica:

por que quem tem twitter, tem blogspot, wordpress, flickr, orkut, facebook, fotolog, gmail, yahoo e MSN. E tudo junto ao mesmo tempo e nunca, por que não há obrigação em manter nada. Divertida a sensação de liberdade e inquieta - trágica - também. Já pensou criar pessoas que não mantém? Blogs, orkuts, compromissos, amigos, amores, família, trabalho, estudos, vida: tudo pela metade, ao sabor do vento.


Esses dias eu me perguntei: se você diz que gosta tanto de blogs, por que você os visita e, em geral, não comenta? E me respondi: ora, por que ninguém me perguntou nada! Quantos posts a gente realmente escreve pra que alguém comente... Todos são escritos com a intenção de serem lidos, motivados pela necessidade de botar pra fora os pensamentos. Mas nós realmente queremos uma opinião ou só que alguém leia e vá embora, deixando um número no contador de visitantes? 

E pra não ser só mais um post egoísta, vou fechar com essa: quantos perfis você já fez na net? Quantos você mantém?
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O Morto


Eu vi um homem morto. Foi ontem, era noite. Uma noite laranja e negra das luzes neon.



Estava no ônibus, pendendo entre um livro e uma canção, quando o reparei pela janela. Estava lá, estendido de qualquer jeito. A boca aberta, os olhos cerrados. Era velho, meia idade – ou apenas gasto, tinha as pernas semi dobradas, era moreno e. Parecia vivo. Parecia vivo como a moça adormecida no caixão do último enterro em que fui. Parecia viva. Na verdade, era a mesma mulher de sempre só que não acordava. Viva como a senhora que minha irmã visitou no hospital há dois dias: ontem já não respirava. O que é, no fim das contas, essa coisa que vai embora e, então, morremos? Talvez ele só fosse um bêbado deitado. Só um bêbado adormecido como um bêbado e não como a mulher ou a senhora. E se o for?
Agora é tarde, por que eu já o vi morrer.
Ouvindo: Bright Eyes
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A Nuvem

Esses dias, percebi que temos habitado uma nuvem. Não, isso não é romântico, nem lírico, nem futurista. E não é só mais uma crônica auto-ajuda – ainda que possa terminar assim. É sério e trágico. Moramos numa penumbra de poeira. Não é pó, ralo e passageiro, é poeira densa, insalubre e perene. Antes de ontem, pela manhã, nos buracos da estrada, a nuvem alcançava a borda inferior janela do ônibus, cobria os carros menores e, das pick-ups, deixava ver o teto.
À noite, com a multidão na romaria tensa do regresso para casa, a nuvem cobriu minha janela. Do vidro, identifiquei uns luzeiros: Palios, Gols, Unos, imersos na buraqueira turva. Os potenciais passageiros dos ônibus se arriscavam tateando vacilantes a porta do transporte, enquanto pares de faróis procuravam não encontrar pares de pernas vacilantes. A poeira se estende enquanto perduram os carros.  Não há tempo de decantar. Não que os grãos emersos não tentem. Mas a cada novo carro, nova excitação, de modo que a nuvem gorda se movimenta, inflando e murchando, inflando e murchando, numa cena patética. Patética a nuvem. Patéticos os carros, os ônibus, os caminhões, patéticos os seus motoristas que furam as estradas e erguem a poeira que – por Deus! – só quer decantar. Patéticos os fazedores de estradas que as fazem para ser poeira e não estrada. Andei pensando se não somos tal qual essa poeira vulnerável, que se excita trêmula a cada coisa que passa. Não dá tempo de decantar. Juntos, os motoristas, passageiros e fazedores de estradas formam também, a seu modo – a nosso modo – uma grande e débil nuvem gordurosa de pessoas na correria dos seus dias atarefadíssimos, ocupadíssimos, atrasadíssimos. Não há tempo para perceber o vento, o céu azul, a grama ou qualquer dessas coisas ordinárias que se reparam quando estamos quietos. Só há espaço para estar na confusão dos carros, formando essa maldita penumbra que resseca meus olhos recém-operados. Meu colírio acabou essa semana. Não sei como conseguir enxergar decentemente. Leio um João do Rio desfocado no ônibus enquanto penso. O que será ou serão o(s) colírio(s) da rotina, que lavaria(m) nossos olhos turvos do vício de não ter tempo.
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Mais um começo

Estive arrumando a bagunça, reorganizando esta casa pra que pudesse receber crônica e ilustração, o que tenho feito ultimamente. Aqui vou depositar uns trabalhos e rascunhos, uns rabiscos e pensamentos. 
 
Bem vindos aí os que acompanharem.

Nos Vemos.
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