Venho aqui e vou embora, trazida por uma inspiração soluçada. Leio, trabalho, dirijo, converso e pronto: apareço, escrevo umas linhas. Apareça também, sempre, quando em vez, assim como eu. E seja bem-vindo.

Mostrando postagens com marcador crônica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crônica. Mostrar todas as postagens

domingo, abril 25, 2010

Croniquetas finais do Beco - Um almoço entre os escombros


Esse é o texto que deveria ter saído no jornal O Povo, mas não deu. Coisas de espaço (ou da falta dele, melhor dizendo).

Acompanhei tudo por boatos. Ouvi falar em polícia, invasão, saque. Mal vi na Tv. As matérias tão curtinhas... Precisei ver de perto. Fui ontem ao Centro e, de pronto, descendo na Av. do Imperador, duas coisas me vieram à cabeça: primeiro, uma pergunta. “Como pode uma semana, de repente, fazer um marco na história de Fortaleza?” Está feito. A 2ª semana de abril de 2010 é sim um marco para esta cidade. E segundo, uma frase, presente em todo o trajeto: “acabou-se o que era Beco”.


--> Leia mais...

sexta-feira, novembro 27, 2009

Um plano para a Moça Loira ou no Brasil, elege-se assim

- Os senhores estão convictos de que isso realmente dará certo? – questionou a moça, cabreira e um tanto constrangida.


- Obviamente!


- Certamente!


- Logicamente!


Meia centena de mentes explodiram numa euforia refinada. A sala de reuniões era alongada e fria de ar-condicionados reguladíssimos, trazia ao centro uma esdrúxula mesa de carvalho, alongadíssima tal qual a sala, que desprezava o mundo com suas enormes cortinas de linho e shantung, além da iluminação artificial de manhã solar, 07 horas de um domingo, 25 graus, no interior de São Paulo. Não era domingo, contudo, e não era manhã, mas uma tarde quente prevendo uma noite tão abafada quanto.


Nas centenas de cadeiras, engravatados de todos os tipos iam otimistas, cada qual por seu motivo. Na poltrona central, acolchoadíssima, ela, a moça loira, observava, atenta e atônita, a barafunda de papéis e discursos.


--> Leia mais...

domingo, novembro 22, 2009

Natal de Luzes ou Um Dia de Espectadora

Estou devendo esta crônica desde o Natal de Luz, na praça do Ferreira. Preparei-me para isto hoje. A casa está relativamente sozinha e o neon do poste refletido na sala de estar traz de volta a memória amarelada da noite de sexta, a noite em fui espectadora e não protagonista.



Existem dias em que não somos protagonistas, mas espectadores. São aqueles em que tudo ocorre a nossa volta, mas não para nós. O mundo está reluzente, acolhedor, interessante ao modo das mulheres grávidas, mas não para nós somente. Não somos o epicentro. Aquele fora um dia desses.


Às seis da tarde quase noite desembarquei em um Centro de Fortaleza diferente daquele de meses atrás. É novembro e o espírito natalino que nos coça os bolsos mantêm abertas as portas das lojas até que hajam criaturas às ruas. Caminho num Centro acordado, desperto apesar dos postes que tornam a vida urbana amarela e negra. Há outros coloridos, no entanto. Pisca-piscas, bolas, enfeites. É natal no Centro, é natal na praça do Ferreira. Estou indo ao encontro dele, para vê-lo chegar. O natal, contudo, já está comigo.

--> Leia mais...

quarta-feira, novembro 11, 2009

O casamento

Os noivos se encontraram no terminal, sim, o noivo viu a noiva antes do casamento. Ia simples, um vestido pastel. O moço combinava com ela em blusa creme, manga comprida, e a calça social marrom, a roupa de domingo. E os amigos brincaram que ele pegasse o primeiro ônibus e a moça, o segundo, a fim de que se cumprisse a tradição da noiva se atrasar. Foram juntos, contudo, e chegaram ao cartório pontualmente. Na sala com ar condicionado, o nervosismo. O canário belga do relógio de passarinhos, na parede, não cantava. Que cantasse, cantasse logo! Os padrinhos deram seus rins para pagar um táxi do Siqueira à Aldeota e não receberam troco, mas chegaram em tempo. Era a hora. Na salinha de casórios, outros cinco casais davam seus sim’s enquanto os poucos parentes revezavam-se na melhor posição para registrar tudo. Terminada a breve cerimônia, mais algumas fotos: “segura o certificado, agora foto de frente e de perfil, muito bem, tá preso, rapaz!”


--> Leia mais...

segunda-feira, setembro 07, 2009

Rente ao Chão ou A Rua do Por Debaixo dos Panos


São dez horas de uma manhã qualquer. A claridade cega os transeuntes, fazendo-os milhares de toupeiras a se esbarrar na correria trivial da José de Alencar. Homens e mulheres ceguetas recorrem ao Beco em busca de óculos escuros a 10 reais. Apesar do sol, uma rua da grande tenda é escura ainda. Ainda e sempre.


Nela, o chão em falso, de cimento batido, não é mais que um pretume disputado por restos. São eles que dizem onde estou, isso é lei em todo o Beco: em quaisquer ruas, o lixo conversa comigo e me diz dos vendedores e transeuntes, dos produtos vendidos e consumidos, de modo que, se me deitasse rende ao chão, saberia exatamente onde estou.


--> Leia mais...

O Beco em Dias de Sábado

Manhã


Sábado: o pior e o melhor dia para estar no Beco da Poeira. Pior para os clientes, melhor para os comerciantes. Apesar do calor, da sede e do completo desconforto, milhares de trabalhadores elegem a manhã de sábado para ir às compras, promovendo-se de vendedores a consumidores, ao menos uma vez por semana.


Hoje, o Beco está especialmente cheio: é véspera de Dia dos Pais. As modinhas femininas, campeãs de vendas, dão lugar a calçados, cintos, bonés e blusas de time. A mãe de família leva os filhos e a irmã, juntos escolhem lembranças para os pais e maridos. Os irmãos maiores repuxam bermudas, cuecas, calções de banho, sapatos e a camisa da mãe: não necessariamente nesta mesma ordem. O filho pequeno sacode-se impaciente nos braços da mulher, quer participar da brincadeira.


--> Leia mais...

sexta-feira, setembro 04, 2009

O Morto


Eu vi um homem morto. Foi ontem, era noite. Uma noite laranja e negra das luzes neon.



Estava no ônibus, pendendo entre um livro e uma canção, quando o reparei pela janela. Estava lá, estendido de qualquer jeito. A boca aberta, os olhos cerrados. Era velho, meia idade – ou apenas gasto, tinha as pernas semi dobradas, era moreno e. Parecia vivo. Parecia vivo como a moça adormecida no caixão do último enterro em que fui. Parecia viva. Na verdade, era a mesma mulher de sempre só que não acordava. Viva como a senhora que minha irmã visitou no hospital há dois dias: ontem já não respirava. O que é, no fim das contas, essa coisa que vai embora e, então, morremos? Talvez ele só fosse um bêbado deitado. Só um bêbado adormecido como um bêbado e não como a mulher ou a senhora. E se o for?
Agora é tarde, por que eu já o vi morrer.
Ouvindo: Bright Eyes
--> Leia mais...

// compartilhe

Share |