Venho aqui e vou embora, trazida por uma inspiração soluçada. Leio, trabalho, dirijo, converso e pronto: apareço, escrevo umas linhas. Apareça também, sempre, quando em vez, assim como eu. E seja bem-vindo.

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quarta-feira, setembro 23, 2009

O labirinto ambulante no labirinto do tempo

“São quatro ripas do esqueleto. Mais uma na parte de cima pro toldo e duas embaixo pra cama de gato que segura a mesa: outras duas ripas mais grossas juntas com prego. Só no final vêm as sacolas da mercadoria e as bonecas pra servir de mostruário. As tiras de pano seguro calafeta a armação. Hoje usam ferro. Uns cilindros pretos, finos, que se encaixa feito canudo, mas naquela época... Era luxo o ferro. Parecia que demorava a montagem, mas não era. E se era, acabava não sendo: a gente acostuma”.


O Camelô não aprendeu a montar barraca com ninguém. Deve ter visto o pai ou a mãe, ou os dois, amarrando as linhas de madeira, e aprendeu. Disso não há nenhuma memória afetiva: montar barracas não fica, não marca, não é nada de mais. No fim das contas, diz-se que vida foi quem ensinou – quem mesmo, assim como se fosse gente. Foi ela quem ensinou: a montar, amarrar, fazer cama de gato, dobrar roupa, ensacar, vestir boneca, vender, desarmar e correr. Tudo o mais rápido quanto fosse necessário.



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segunda-feira, setembro 07, 2009

Rente ao Chão ou A Rua do Por Debaixo dos Panos


São dez horas de uma manhã qualquer. A claridade cega os transeuntes, fazendo-os milhares de toupeiras a se esbarrar na correria trivial da José de Alencar. Homens e mulheres ceguetas recorrem ao Beco em busca de óculos escuros a 10 reais. Apesar do sol, uma rua da grande tenda é escura ainda. Ainda e sempre.


Nela, o chão em falso, de cimento batido, não é mais que um pretume disputado por restos. São eles que dizem onde estou, isso é lei em todo o Beco: em quaisquer ruas, o lixo conversa comigo e me diz dos vendedores e transeuntes, dos produtos vendidos e consumidos, de modo que, se me deitasse rende ao chão, saberia exatamente onde estou.


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O Beco em Dias de Sábado

Manhã


Sábado: o pior e o melhor dia para estar no Beco da Poeira. Pior para os clientes, melhor para os comerciantes. Apesar do calor, da sede e do completo desconforto, milhares de trabalhadores elegem a manhã de sábado para ir às compras, promovendo-se de vendedores a consumidores, ao menos uma vez por semana.


Hoje, o Beco está especialmente cheio: é véspera de Dia dos Pais. As modinhas femininas, campeãs de vendas, dão lugar a calçados, cintos, bonés e blusas de time. A mãe de família leva os filhos e a irmã, juntos escolhem lembranças para os pais e maridos. Os irmãos maiores repuxam bermudas, cuecas, calções de banho, sapatos e a camisa da mãe: não necessariamente nesta mesma ordem. O filho pequeno sacode-se impaciente nos braços da mulher, quer participar da brincadeira.


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