Eu vi um homem morto. Foi ontem, era noite. Uma noite laranja e negra das luzes neon.
Estava no ônibus, pendendo entre um livro e uma canção, quando o reparei pela janela. Estava lá, estendido de qualquer jeito. A boca aberta, os olhos cerrados. Era velho, meia idade – ou apenas gasto, tinha as pernas semi dobradas, era moreno e. Parecia vivo. Parecia vivo como a moça adormecida no caixão do último enterro em que fui. Parecia viva. Na verdade, era a mesma mulher de sempre só que não acordava. Viva como a senhora que minha irmã visitou no hospital há dois dias: ontem já não respirava. O que é, no fim das contas, essa coisa que vai embora e, então, morremos? Talvez ele só fosse um bêbado deitado. Só um bêbado adormecido como um bêbado e não como a mulher ou a senhora. E se o for?
Agora é tarde, por que eu já o vi morrer.
Ouvindo: Bright Eyes
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