Venho aqui e vou embora, trazida por uma inspiração soluçada. Leio, trabalho, dirijo, converso e pronto: apareço, escrevo umas linhas. Apareça também, sempre, quando em vez, assim como eu. E seja bem-vindo.

domingo, abril 25, 2010

Croniquetas finais do Beco - Um almoço entre os escombros


Esse é o texto que deveria ter saído no jornal O Povo, mas não deu. Coisas de espaço (ou da falta dele, melhor dizendo).

Acompanhei tudo por boatos. Ouvi falar em polícia, invasão, saque. Mal vi na Tv. As matérias tão curtinhas... Precisei ver de perto. Fui ontem ao Centro e, de pronto, descendo na Av. do Imperador, duas coisas me vieram à cabeça: primeiro, uma pergunta. “Como pode uma semana, de repente, fazer um marco na história de Fortaleza?” Está feito. A 2ª semana de abril de 2010 é sim um marco para esta cidade. E segundo, uma frase, presente em todo o trajeto: “acabou-se o que era Beco”.



Da Praça da Lagoinha, os escombros da feira mais pareciam um leão ferido, uma fornalha reduzida a cinzas - fumegante, porém inativa. Não resisti. Dei a volta e entrei, a despeito dos construtores, no Beco em ruínas, almoçando meu pastel de carne de um real. Lá de dentro, só a lembrança de fotos de jornais antigos, folheados na hemeroteca. No lixo (que cobria todo o chão), ficaram os resquícios de 18 anos de um povo trabalhador e sobrevivente, que há de continuar a sê-lo em qualquer lugar – não é saudável entrar nessas questões.

De resto, as caixas de papelão, os ferros e as madeiras farão a festa de muitos, dos catadores e de quem mais que deseje entrar e dar uma catadinha. Nos olhos curiosos de quem passava na praça, via-se a ânsia pelo novo, a suspeita de que viviam também aquele tal momento histórico. Em mim, de tudo isto, restou a solidariedade pelas eventuais perdas e a esperança de dias generosos para permissionários, vendedores, mas sobretudo - desejo - àqueles que pagaram por boxes, mas – por algum motivo (quais?) – não receberam. Que a justiça seja feita. Felicidade? Apenas em poder dizer: “Deu tempo, sim, de registrar o possível.  história do Beco está cá comigo.

0 comentários:

Postar um comentário

// compartilhe

Share |