Poker Face - Lady Gaga - Esse é disparado o melhor de todos!
por mayara de araújo
Venho aqui e vou embora, trazida por uma inspiração soluçada. Leio, trabalho, dirijo, converso e pronto: apareço, escrevo umas linhas. Apareça também, sempre, quando em vez, assim como eu. E seja bem-vindo.
Diversas atitudes dos personagens ao longo de toda a peça são baseadas em uma frase do escritor Otto Lara Resende que diz: “o mineiro só é solidário no câncer”. Edgard, o protagonista, é quem cita a frase, logo no inicio do primeiro ato. Bêbado, procura explicá-la:
Está quente. Como nunca esteve. Às duas da tarde desço do ônibus, estou em casa. Da parada avisto uma daquelas ruas típicas dos filmes de faroeste: lojinhas e pequenos prédios apertados sob um sol implacável. Esta é a rua onde moro: um lugar seco e amarelo. Nunca gostei de amarelo e agora então...
A cor da quentura, no entanto, não é um amarelo qualquer. Estes dias, ao descer do ônibus, pensei nisso, fiquei procurando na paleta de cores – ouro, ovo, maple, pele, cheguei, claro, escuro, mostarda. Não é nenhum desses. O amarelo dos dias quentes é doloroso aos olhos, seco e constante, ávido e implacável. Implacável, palavra forte.
Muitas vozes tagarelando na cabeça. Precisava escrever. Não é fácil. Disse isso outra vez, vivo dizendo. Mas é difícil mesmo, difícil escrever. Eu não gosto disso. Não gosto do que faço.
Mas sei fazer, eu sei disso, ou talvez me contente com pouco. Desde muito nova fui assim, nas aulas de Física em que errava 16 questões de vinte e me orgulhava dos quatro acertos... sempre assim. Sou péssima em exatas, o vestibular que o diga. Já contei que só passei no vestibular por que anularam uma questão de Física?
Acontece que, na manhã em que soube que estava na segunda fase, disse para mim, pra quem estivesse perto: ninguém podia me segurar. Eu sabia que sabia português e história, estava em casa, ninguém me tiraria aquele lugar outra vez.
Não me sinto assim há tempos. Não me sinto em casa. Não me sinto confortável com o jornalismo como me sentia com o teatro ou o desenho ou 150 pessoas me vendo em cima de um altar, esperando que dissesse algo que lhes mudaria a vida... Isso não conta, não era eu naquele altar, definitivamente. Eu sei o que senti e isso não se nega.
Escrever não é estar em casa, pelo contrário, é uma tortura, dor, um precipício. Odeio escrever. Odeio ter que escrever. É... difícil.
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