Venho aqui e vou embora, trazida por uma inspiração soluçada. Leio, trabalho, dirijo, converso e pronto: apareço, escrevo umas linhas. Apareça também, sempre, quando em vez, assim como eu. E seja bem-vindo.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Nada de Dinheiro, Tudo de Cansaço; ou A Escrotice do Cartão de Plástico

Ontem engoli a seco as conseqüências de topar um jogo sujo. E me senti suja de incentivar algumas dessas roubalheiras das quais tanto reclamamos. Não se pode dizer nada quando se participa delas. Emudeci na fila do caixa, revirada de constrangimento e raiva. Ridícula.


Meu cartão atrasou por que faltava dinheiro e sobrava orgulho de não pedir a ninguém. Paguei aqueles juros filhos da mãe.


Olha na minha cara, tenho mais de 20, acha mesmo que vou pedir a alguém?


Eu tinha dinheiro. Ainda tenho, mas na mão de outra pessoa. Só se pode pagar contas quando outros decidem quitar as suas. A minha dívida corresponde à dívida de alguém comigo, não é assim que funciona a bola de neve dos atrasados?


De ontem não podia passar. Sinto-me péssima quando tenho assuntos pendentes, sobretudo quando envolvem dinheiro. O dia foi longo de negociações, longo de laconice, de emburramento de querem ter coisas e não poder comprar. Em um momento do dia, cheguei a ter 1000 reais em espécie dentro da mochila e, em minutos, o cartão de crédito e os gastos básicos da vida me torraram tudo. Alguém aguenta isso?



Estou cansada. Uma hora a gente cansa de viver contando os trocados.


Vendi meu celular pra ter dinheiro pro mês. No próximo, sei lá. Se receber em dias, bem, se não... aquela bosta vai atrasar de novo e lá vou eu servir de filha de uma égua pra esses escrotos dos cartões, pagando anuidades caríssimas, multas, IOFs e o escambau. Liguei pra reclamar, mas quem disse que a merda dos call centers atendem? A tal lei de regulamentação só serviu pra esculhambação ficar ainda mais explícita, por que a gravação faz questão de dizer na sua cara que o tempo de espera é SUPERIOR A 3 MINUTOS! Foram 4 ligações com 6 minutos cada. Eu contei e cansei: ninguém atendeu.


Vou quebrar aquele plástico do inferno, aquela tarja magnética demoníaca.


Quando financia minhas pequenas extravagâncias ele não é do demônio. Eu sei disso, droga. Não precisa lembrar.


À noite, depois de aguentar exausta a fila do caixa, deixei o shopping e ainda deu pra assistir a duas canções do Syntagma, na Concha Acústica. Show de graça não se perde. Depois do concerto, um auto de Natal. Não fiquei pra ver.


O auto me lembrou que, próximo mês, tem a mesma ladainha.


Deus devia ter me feito alguém lucrável e não jornalista ou desenhista ou essas coisas.


Ai, esqueçam isso. Nada do que eu disser vai sair bonito hoje.





“A vida é de graça? / Tem gente pagando pra viver

Espero uma carta / Com dinheiro e saúde

Vá se fuder!”

"A Vida é de Graça", Vera Loca

4 comentários:

dhenis disse...

vc nao está sendo rentável por um problema que nao eh seu, que eh do seu local de trabalho. nao desmereça seu trabalho nem sua arte.
vc é amavel, muito mais que rentavel, por isso, sabe que pode contar comigo na hora em que deixar o orgulho de lado.
te amo.

Mayara Carol Araujo disse...

Ai, Dh, não é só o local de trabalho, sabe... sei lá, acho que o que realmente me chateia é não conseguir viver de arte. Se isso fosse um tanto mais valorizado nesse país, talvez sequer tivesse feito jornalismo, talvez tivesse migrado direto pras artes plásticas. Claro que o destino foi fantástico por que o jornalismo renovou todos os meus conceitos de arte, mas... eu queria mesmo era desenhar e não ser jornalista... ou ser jornalista desenhando, o que era até melhor... será que isso um dia vai dar certo?

Eu também te amo, muito. Obrigada por estar por perto.

Gabi disse...

Mayara, por favor sabe que pode me ligar nessas horas. Melhor do que pagar esses juros rídiculos, pra esses cartões.Afe!

janabras disse...

Eu fico pensando em que te dizer... mas eu não sou orgulhosa de acordo com seus termos. A gente vive numa cidade que precisa de gente medíocre pra abastecer o mercado provinciano, May. É isso ou as carreiras de guerra: socialmente necessárias, mas hiperpopulosas desde que se criaram as universidades brasileiras. Hm... Há também a vida gostosa dos bureaux públicos...

Nesse contexto, May, ser rentável logo de cara é xingamento. Você acaba de se formar. Quer fazer o favor de ter um pouco mais de paciência? Com seu trabalho, vc era pra estar com fogo no rabo de tanto frila. É fato. Agora... as coisas são como são, não adianta se lamentar e deixar a casca dura se meter no meio do nosso caminho.

Precisa de grana, bicho? Tá trabalhando, não é desocupada, o dinheiro não dá? Mais de vinte anos uma chibata! Fique devendo ao seu pai! Depois paque! Égua, May, você não precisa pagar juros pra provar que tem colhões! Você tem! E são dois!

Oras.

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