Venho aqui e vou embora, trazida por uma inspiração soluçada. Leio, trabalho, dirijo, converso e pronto: apareço, escrevo umas linhas. Apareça também, sempre, quando em vez, assim como eu. E seja bem-vindo.

sábado, abril 24, 2010

Quem julgará a menina Angelina? Quem fará igual?

Escrever sobre a indústria cultural e principalmente fonográfica, quando não é ofício de muitos jornalistas, torna-se um dos passatempos prediletos deles. Eu que o diga. O universo da música e dos músicos muito me agrada, pois revela consideravelmente, sob outras lentes, o nosso tempo, afinal, os artistas que marcam a história da sociedade ou simplesmente a de nossas vidas são aqueles que deixamos eclodir. Por isso a diferença que aponto entre público e pessoas. O primeiro é aquele que permite ao artista a exposição do seu trabalho e da sua vida, o segundo, por sua vez, é tão somente um ouvinte, às vezes fruto do acaso.

Formada então por pessoas, públicos, artistas, gênios, ídolos e desafetos, a história da música mundial, sobretudo a indústria do som, recorda-me uma montanha-russa: o trajeto é fundamentalmente o mesmo, mas a cada nova manobra, ainda que prevista, causará sempre reações inesperadas. Em 2008, a meu ver, pode-se dizer que os “carrinhos musicais” do mundo deram mais um loop. Um ano antes da perda de Michael, o mundo já reparava a emersão de uma jovem cantora da noite norte-americana, apenas um ano mais velha que esta nada famosa autora, descoberta entre os corredores do estúdio de Akon, com a boa e má intenção de revolucionar diversos elementos da música pop e eletrônica, além de aprimorar um dos mais significativos legados deixados pelo rei moonwalker. Intenção, aliás, talvez não seja a melhor palavra. Pode-se dizer apenas que ela – a seu modo – deixou suas digitais no mundo da música, propositadamente ou não.



Antes, escute e tente descobrir de quem estou falando:
Pianista, voz forte, mas “não-negra”, emplacando um quase blues. Lembra Alicia Keys, Gwen Stefani ou até Cristina Aguilera, perdida nos sucessos dos anos 90. Lembra, mas não é.

Escute essa agora:




Chega a ser difícil crer que ambas as canções são interpretadas pela mesma pessoa. Stefani Joanne Angelina Germanotta: Lady Gaga. Estranho, eu sei. Estranheza, aliás, e Lady Gaga parecem fazer um par perfeito. A moça, no entanto, é mais que isso. Em um mesmo CD, chamado The Fame, o primogênito da carreira, Gaga alia músicas lentas, com resquícios de soul e R&B (como Again, Again, que você ouviu anteriormente), a sucessos explosivos das pistas como Just Dance, Paparazzi e a afamada Poker Face, colírios para as foscas pupilas dos julgadores de Music Awards, Grammys e afins.


Cantoras jovens transformadas da água para o vinho não é novidade alguma, Avril Lavigne conseguiu saltar de Noviça Rebelde a Patricinhas de Beverly Hills em um ou dois CDs, quanto a Britney Spears, melhor nem comentar. Mas transformar-se em um mesmo CD? No primeiro da carreira? Lá vai a montanha-russa de novo. Ao longo de toda a escuta de The Fame, uma pergunta me incomodou insistente: “afinal, quem é, de verdade, essa tal Germanotta?”

Duas hipóteses: Primeira – a Gaga que conhecemos é uma criação dos empresários que, em The Fame, decidiram testar que tipo de cantora o público queria, mesclando o que Germanotta já vazia nas noites com algo muito louco e inusitado, que poderia dar muito certo. O público acabou decidindo, entre a “normal” e a “excêntrica”, venceu a última. Segunda – Joanne é realmente descompensada, com apoio de um empresariado sólido e dividendos suficientes, conseguiu finalmente dar maiores proporções aos seus devaneios, percebidas nos clipes, nas roupas de vinil e em todas as outras extravagâncias da loira.


Independentemente de qual hipótese esteja correta, é fato que a fórmula de Lady Gaga, assim como a indústria fonográfica, como já disse, não é imprevisível. Chocar é segredo de sucesso há muito tempo, a questão é: quem tem coragem? Lady Gaga teve (aplausos). E revolucionou ou, ao menos, sacudiu os conceitos do que se entendia por moda-arte, cujo habitat é tão somente as passarelas, e moda usual, das ruas e festas. Sem falar no que está fazendo aos vídeo clipes, que pode e deve ser comparado à evolução proporcionada por Michael Jackson. Os clipes de Gaga são verdadeiros seriados: oníricos, esdrúxulos sim, mas com direção, enredo, script, filmagem de making off, tudo digno de cinema. Quem mais faz clipes de nove minutos atualmente?

Uma pergunta melhor: quem mais arrasta a Diva do momento, inclui no seu show como coadjuvante (Lady Gaga feat Alguém Qualquer), faz a bam-bam-bam vestir suas roupas, dançar a sua dança e ainda agradecer a parceria? Jogada de mestre do empresariado Gaga. E grande jogada da Beyoncé LTDA também. O certo é que foi um sucesso e a Lady Gaga de Telephone é diferente de todas as outras (cantoras e Gagas).


Personagem ou não, a moça conseguiu impor um respeito à tal imagem a ponto de alcançar aceitação suficiente para superar a obviedade do simplesmente ridículo. Se a pergunta inicial era “Quem tem coragem de fazer o que ela faz?”, agora é “Quem pode ridicularizá-la?”. Ninguém, creio eu.

É importante perceber, contudo, que o sucesso só foi possível por que a fórmula foi aplicada ao lugar correto. Afinal, pense comigo: uma Lady Gaga igual à original conseguiria nascer no Brasil? Digo, não apenas fazer sucesso, mas se firmar e impor respeito?

Minha opinião: impossível. Sem entrar no mérito da sociedade brasileira ser boa ou ruim ou ainda de uma Gaga no Brasil ser bom ou ruim, nós brasileiros somos muito família, muito próximos, íntimos, enxeridos até para que uma Lady Gaga surgisse aqui. Se fosse máscara, personagem, tão logo a cantora misteriosa e excêntrica seria desmascarada; se fosse sério, tão logo seria ridicularizada. Imagine Lady Gaga no programa da Xuxa? Cozinhando no Estrelas? Lançando CD no Faustão? Gente, impossível.

O que sei é: de Gaga, basta uma. A original. A personalidade da danada – fake ou não – permite-lhe fazer e dizer quaisquer coisas, já que ela é a personificação da contradição, do nonsense, e acreditem não há nada de ofensivo ou pejorativo quando digo isto. A questão é: se a loira pode tudo, o que ela vai aprontar na próxima ocasião? Eu, ao menos, espero ansiosa a confirmação dos rumores de uma parceria de tremer as bases da montanha-russa fono e cinematográfica: Lady Gaga & Quentin Tarantino.
É esperar pra ver.


1 comentários:

Unknown disse...

acho que ele deve ter transtorno bipolar. heheheh
agora, nao sei se a compararia ao michael em termos de revolução de clips, achoque ainda ta mais pra madonna mesmo.

acho que a dupla gaga e quentin eh perfeita, os dois sao os reis do trash-pop-cult-muito louco.
vamos ver no que vai dar.

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