Venho aqui e vou embora, trazida por uma inspiração soluçada. Leio, trabalho, dirijo, converso e pronto: apareço, escrevo umas linhas. Apareça também, sempre, quando em vez, assim como eu. E seja bem-vindo.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

A vida não espera

Perdão a todos pelo sumiço. Falta de tempo e de internet em casa. O mundo está correndo e chamando meu nome, eu, gordinha como estou atualmente e nada afeita a exercícios físicos, estou galopando ofegante, tentando alcançá-lo.


"Calma, vida, lá vou eu!", estou dizendo. Ela não se aquieta, contudo. A vida não espera.


Estatísticas do IBGE são dados que todos deveriamos consultar mensalmente. É fascinante saber do nosso país nesses termos tão exatinhos. Os últimos resultados encheram os jornais de ontem e eu resolvi replicar a notícia aqui, por que, de fato, é importante saber.




"Em 2008, esperança de vida dos brasileiros chega a 72,86 anos


A esperança de vida ao nascer da população de ambos os sexos no Brasil passou de 69,66 anos (69 anos, 7 meses e 29 dias) para 72,86 anos (72 anos, 10 meses e 10 dias). Assim, brasileiros nascidos em 2008 esperariam viver, em média, 3 anos, 2 meses e 12 dias a mais do que os nascidos em 1998. Em 2008 a esperança de vida ao nascer masculina era de 69,11 anos, e a feminina, de 76,71 anos. Entre 1970 e 2008, a mortalidade infantil caiu de 100 para 23,30 óbitos por mil nascidos vivos. Mesmo considerando-se apenas o período entre 1998 e 2008, a queda da mortalidade infantil evitou mais de 200 mil óbitos. Ainda assim, de 1998 a 2008, morreram, diariamente, 68 homens jovens de 15 a 24 anos por causas externas, totalizando cerca de 272,5 mil óbitos. Nesse período, entre os jovens de 20 a 24 anos, as causas externas vitimaram 9 homens para cada mulher. Esses são algumas informações construídas a partir da Tábua de Mortalidade do IBGE referente ao ano de 2008.


Desde 1999, o IBGE divulga anualmente a Tábua Completa de Mortalidade da população do Brasil, referente a 1º de julho do ano anterior. Esta divulgação tem sido realizada em cumprimento ao Artigo 2º do Decreto Presidencial nº 3.266, de 29 de novembro de 1999. A tábua de mortalidade apresenta a expectativa de vida para idades exatas até os 80 anos, e tem sido utilizada pelo Ministério da Previdência Social como um dos parâmetros do fator previdenciário das aposentadorias sob o Regime Geral de Previdência Social."



Fico feliz e triste. E sinto o que a Estética explicaria por Sublime, um acometimento prazeroso por que é belo, mas por vezes assustador. O  sublime está presente quando estamos diante da gigantesa dos oceanos por exemplo, ou da força arrasadora de tempestades e vulcões, esplendorosos, mas fatídicos. Face às estatísticas, sinto-me diante da beleza grandiosa da vida, na qual a natureza nem sempre é a única responsável por fazer nascer e morrer.


Temos vivido mais. A expectativa, no entanto, ainda não me é suficiente.  Sempre disse da boca pra fora que morreria cedo, achava. Já não gosto de achar. Quero viver mais de 72 anos, 10 meses e 10 dias. Adoro isto, a vida, a rotina, as novidades pequenas e grandes, os acontecimentos. Quero viver para ver se os extraterrestres são mesmo nesses modos que discuti com os amigos dia desses; para ver os seres humanos encontrar um planeta semelhante ao nosso e se mudarem de vez; quero vê-los fazer melhor uso dessa tal casa nova, por que este aqui, companheiros, está às baratas. (Se bem que, possivelmente, se as baratas, de fato, governassem este mundo, talvez o coitado não estivesse tão derrubado).


E quero ver no que vai dar essa compulsão humana em nos refazer pela robótica,  pela genética, pelo escambau. Construiram braços, pernas, sabe-se lá o que mais farão. Eu enxergo a catastrófica viabilidade do filme "Eu, robô", aquele lá do Will Smith, e temo por isso.


Felicito-me ainda pelas crianças que salvamos, orgulho-me de todos que direta ou indiretamente foram responsáveis por estes 200 mil óbitos evitados, mérito, sabemos, não só dos profissionais de saúde ou da farmacologia ou da tecnologia hospitalar, mas de todos que com seus esforços fizeram evoluir as condições de  habitação, emprego e assistencia, claro. Muito ainda precisa ser feito, no entanto. É importante falar disso, já que o discurso  faz parecer que todos os pequenos nascidos no Brasil crescerão em circunstâncias salutares. Meu completo descontentamento reside em outros dados estatísticos: quantas destas crianças salvas da mortalidade serão números em outros resultados, como os de mortes violentas, de jovens até? Quantos desses sobreviventes, que passaram ilesos aos caixões de anjinhos, hão de perder-se nas drogas, na marginalidade, e ter suas vidas registradas na outra tabela, vizinha, “241 mortes do sexo masculino entre 1998 e 2008, sendo 150 destas entre os homens com idades entre 15 e 39 anos”.


Eu quero viver para ver um outro país nas estatísticas do próximo mês, por que a vida, amigos, não espera, e o Popclock instalado no site do IBGE conta em tempo real a população brasileira a cada minuto. Durante a escrita deste post, nascimentos e mortes, alegrias e tragédias já ocorreram e acabaram, neste fio de existência que escorre entre os dedos.


A todos, boa vida, bons ventos, e cuidemo-nos.


1 comentários:

Sidney Pires disse...

Estava com saudades, ainda bem que os problemas com a net foram resolvidos, e puxa, nossas conversas realmente rendem, que bom, e me chamou muito a atenção, a expressão, "esperança de vida" ao invés de expectativa, pois "quando a esperança está dispersa, só a verdade me liberta" um abraço!

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