Venho aqui e vou embora, trazida por uma inspiração soluçada. Leio, trabalho, dirijo, converso e pronto: apareço, escrevo umas linhas. Apareça também, sempre, quando em vez, assim como eu. E seja bem-vindo.

terça-feira, novembro 24, 2009

Isso é duro, mas confesso: tive vergonha de ser maranguapense

Eu queria estar aqui hoje escrevendo amenidades, cultivando aquelas palavras bonitas que tanto gosto de reproduzir nessa sala de estar, mas do que vivi ontem, boas palavras não poderão ser proferidas.


Ontem pela manhã fui levar minha avó de 92 anos ao médico, pois está gripada. Meu pai precisou tirar o carro para tanto, já que íamos longe. Levamos a um dos nossos "médicos de família", sim por que temos a sorte de ter médicos de família, doutores que, por conta do trabalho do meu pai na antiga FNS e dos problemas auditivos dele, tornaram-se amigos da casa. Dr. Moura, contudo, não está mais em Maranguape. Nenhum deles, na verdade, está mais lá. A não ser um, com clínica particular.


Cedo fomos ao município vizinho, Maracanaú, para encontrá-lo. Em um posto de saúde modesto de um bairro idem, lá estava um médico excelente. A estrutura do local era simples, mas organizada. O principal: funcionava bem. Haviaatendentes, aparelhos de pressão, cadeiras para que ninguém esperasse de pé, salas de consultório com médicos (eles têm uma geriatra! E fazem prevenção aos sábados para as pessoas que trabalham a semana toda), e acreditem, havia uma farmácia, e com remédios. Tudo o que Dr. Moura nos receitou esteve a nossa disposição gratuitamente.



Volto a lembrar que não estou falando do hospital da cidade, mas de um posto de saúde modesto de um bairro relativamente periférico. Estes relatos não são uma propaganda à atual gestão municipal de Maracanaú, pois o que existe lá não é mais do que a obrigação básica de uma prefeitura, mas são SOBRETUDO um desabafo de uma maranguapense frustrada e revoltada com os rumos que tomaram a gestão do seu município, com o que fizeram do nosso sistema de saúde.


Estou envergonhada.


Envergonhada de ser maranguapense. Envergonhada de, esses dias, ter sabido que um rapaz maranguapense morreu por que comeu uma banana à noite, teve uma indigestão e não foi adequadamente atendido, apesar de ter ido ao HOSPITAL DA CIDADE duas vezes.


Aproveito esse espaço para pedir desculpas à população de Maracanaú por ter precisado sair da minha cidade para usufruir dos seus remédios e médicos, por ter furado aquela fila. Eu não deveria precisar daquele posto, eu não deveria precisar daqueles medicamentos. Mas minha gente está morrendo por falta de atendimento médico e...


No hospital da nossa cidade, médicos (dos quais desconfio da procedência, da formação, do caráter, do tudo) receitam o que tiver na farmácia, feito um restaurante de PF com prato do dia. Hoje é dia de Voltarem! Todo mundo no Voltarem! Quem tiver com dor, só venha amanhã, que é dia de Buscopan! A doença também é tratada como oferta da casa: há dias em que todos saem com o mesmo diagnóstico, aquele conhecido nosso, a boa e velha virose. Isso não é só um problema de médico, mas de condições de trabalho, de estrutura, de material, de - nossa - muitas coisas!


Quantas pessoas morrem de virose por ano? Quantas sabem do que morreram?


Eu tenho medo de hospitais públicos. Medo mesmo, pânico. Eu não consigo entrar no hospital da nossa cidade, não me sinto segura. Eu fecho a cara, confiro tudo o que o médico escreve, vejo no que estão pegando, que remédio a enfermeira está pondo no soro, que dosagem... Entro em pânico calada. Detesto contar isso, sempre soa como se eu fosse uma abastada, criada em berço de ouro, com um plano de saúde sempre a postos... De fato, eu fui, não nego, mas frequentei postos de saúde durante minha infância toda. Acontece que não sou só eu que tenho medo, todos têm, a diferença é que, em geral, tenho opções.


Sinto-me ferida, magoada de ter que falar isso.


Como é duro para mim e para qualquer pessoa que, como eu, tenha muito orgulho daquela cidadezinha que consegue ainda ser tranquila, apesar da Fortaleza Vida Loka; que consegue sobreviver apesar dos sanguessugas de 4 em 4 anos...


Próximo ano, eleições de novo. Meu Deus, eu não faço a mínima ideia.... eu não sei em quem acreditar...

O que eu queria? Justiça! Uma providência! Sei lá, vergonha na cara. Vergonha de ter a carteira assinada como ladrão, vagabundo, corrupto por 4 anos. Só vergonha na cara mesmo. Tem muita gente precisando disso.



E eu já disse: nunca mais - nunca mais - ninguém me verá no meio da rua feito besta comemorando a vitória de candidato nenhum! Olha, de longe, essa foi uma das coisas que mais me arrependo de ter feito em minha vida.


3 comentários:

sidneypires disse...

Faço minhas todas as suas palavras May, principalmente as últimas, meu voto já há algum tempo é somente nulo, não tem nenhum que tenha mostrado ser merecedor dele, e meu voto vale MUITO, e na questão da saúde, meu pai foi vítima de umas dessas "viroses" que de virose não tinha absolutamente nada, era sim uma LEPTOSPIROSE. Gonzaguinha de Maranguape é um verdadeiro matadouro!!!

Mayara Carol Araujo disse...

Sid, meu velho, eu não sabia do seu pai. Sinto muito, amigo.

dhenis disse...

deviamos usar desse espaço (internet) pra tornar essa indignaçao forte, audível e factível.

as palavras que você escreveu são duras, mas é de dureza que precisamos. e de ação. por que é por falta dela que a cidade covalesce em seu próprio leito. e nas mãos de um médico, de que desconfio a procedencia. isso me faz entrar em pânico!

mas é preciso falar.

como?

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